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Estudo revela rotas migratórias das tartarugas-de-pente

10/07/2015 - Aprofundar o conhecimento científico para definir estratégias de conservação da espécie. Leia mais. ↓

No Rio Grande do Norte, a primeira experiência com o rastreamento por satélite com tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) iniciou em fevereiro de 2015, fruto da parceria com a empresa Petroleum Geo Services (PGS) e o TAMAR, em atendimento aos condicionantes para licenciamento de pesquisa sísmica conforme Termo de Referência da CGPEG/DILIC/IBAMA. A pesquisa foi batizada de “Constelação das Tartarugas-de-Pente do Rio Grande de Norte” e cada tartaruga marinha monitorada recebeu o nome de uma estrela. Na primeira etapa, doze fêmeas receberam transmissores que passaram a fornecer dados sobre seu deslocamento e comportamento, fundamentais para aprofundar o conhecimento das rotas migratórias e para definir estratégias de conservação da espécie.

Dois tipos de transmissores são utilizados na pesquisa: o SPOT5, cuja informação se limita à posição geográfica com uma precisão aproximada de 1000 metros, e o SPLASH10 com precisão de cerca de 350 metros, que além de GPS também possui sensores de temperatura e profundidade que registram o tempo de mergulho e de superfície. O SPOT5 tem o potencial de durar mais tempo (a expectativa é que dure até dois anos para permitir o rastreamento completo de uma remigração), enquanto o SPLASH10, com provável duração menor, visto que envia mais informações, tem maior precisão de posição e coleta variáveis sobre o mergulho que permitem inferências ecológicas adicionais. O mais notável é que este transmissor permite acessar o pacote completo de informações registradas nos mergulhos e nos deslocamentos, se conectado diretamente a um computador. Na praia da Pipa, com a experiência das equipes de campo do TAMAR na marcação (trabalho conhecido como saturação), 100% das fêmeas com transmissores SPLASH10 foram novamente abordadas nos intervalos entre ninhos (15 dias em média), fato inédito no Brasil, conforme explica o coordenador do TAMAR no RN, biólogo Armando Barsante.

No Brasil, a tecnologia começou a ser usada no ano 2000, em parceria com a University of Wales, no Reino Unido, para estudar o deslocamento de juvenis e adultos de tartaruga-verde no Ceará. De lá para cá, o Tamar realizou pesquisas rastreando fêmeas em reprodução de tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) na Bahia, tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) em Sergipe e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) no Espírito Santo.

Siga a tartaruga! - Das doze tartarugas com transmissores, duas (Vega e Antares) perderam o sinal antes de chegarem ao seus sítios de alimentação; entretanto para as outras foi possível identificar o ponto de parada depois que iniciaram a migração pós-reprodutiva. A tartaruga batizada de Capella não migrou. Esta fêmea, após o término da temporada de desova, se deslocou apenas 19 km, permanecendo nas imediações do RN, e ainda não sabemos se ela irá iniciar sua migração inter-reprodutiva. As duas maiores migrações foram de fêmeas que se estabeleceram uma no Maranhão e outra no litoral do Pará, tendo a primeira, chamada de Alfa Centauri, se deslocado 1175 km e a segunda, conhecida como Mimosa, 1513 km. Três fêmeas se estabeleceram ao longo da costa do Ceará, Arcturus, Regulus e Bellatrix, a distâncias que variaram entre 365 e 730 km da praia de desova. A fêmea Atria migrou para o norte (103 km) mas não chegou a sair de águas potiguares. Trata-se de um animal que foi pego ainda filhote, criado por cinco anos por um pescador em um tanque de água doce e liberado ao mar pelo TAMAR em 2005. Dez anos depois, ela foi vista desovando na mesma praia em que nasceu, conhecida como Olho d`Água, em Baía Formosa. Duas fêmeas, Sirius e Aldebaran, se estabeleceram na Paraíba, no centro do estado, a distâncias de 84 e 131 km da praia de desova. Já a fêmea Antares desceu em frente a foz do rio Formoso, sul do estado de Pernambuco, onde encontrou sua área de alimentação a 274 km da praia de desova. Estas informações são da primeira etapa da pesquisa, que continuará ao longo da próxima temporada de reprodução (2015/2016) quando deverão ser acoplados mais 18 transmissores em tartarugas.

Ciência e Tecnologia - Historicamente, a grande maioria dos estudos com as tartarugas marinhas ocorre nas praias de desova com as fêmeas e seus filhotes, ambiente em que se tornam mais acessíveis. Até a década de 80, as informações sobre a dispersão desses animais na imensidão do oceano eram limitadas aos raros casos de recaptura fora do sítio de marcação, trazendo apenas informação do ponto de marcação e de recaptura. O desenvolvimento de técnicas moleculares a partir dos anos 90 levou a uma explosão de evidências genéticas sobre a fidelidade ao sitio natal e também sobre a diversidade de origens encontradas nas áreas de alimentação. Entretanto estes estudos apresentam uma abordagem de população, permanecendo desconhecidos os padrões individuais de dispersão que compõem uma população. Com a chegada da nova era tecnológica e desenvolvimento de dispositivos de rastreamento cada vez menores, avanços sem precedentes no conhecimento das rotas migratórias, ecologia e comportamento em geral tem sido alcançados.

Tartaruga Tartaruga-oliva

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