30/05/2016 - Os dados apontam para novos recordes. Leia mais. ↓
A coordenação nacional do Projeto Tamar acaba de divulgar resultados da 35ª temporada de reprodução das tartarugas marinhas (2015/2016) no continente. Os dados apontam para novos recordes: mais de 25 mil ninhos protegidos, gerando 2,3 milhões de filhotes que chegaram ao mar em segurança. Destaque para o aumento, em relação à temporada anterior, de 39% do número de desovas de tartaruga-cabeçuda, a espécie que mais se reproduz no litoral brasileiro.
Os resultados são da temporada no continente, pois nas ilhas oceânicas ainda continua até julho. Na Bahia aumentou em 20% o número de ninhos de tartaruga-cabeçuda em relação à temporada anterior, no Espírito Santo o aumento foi de 99% e no Rio de Janeiro de 66%, três estados que concentram a maioria dos ninhos desta espécie, além de Sergipe que não teve aumento significativo. “Registramos em 35 anos os resultados da proteção constante aos filhotes. Como uma tartaruga marinha demora 30 anos para ficar madura sexualmente e reproduzir, uma nova geração de fêmeas já está nas praias para refazer o ciclo da vida”, explica a coordenadora de pesquisa e conservação do Tamar, oceanógrafa Neca Marcovaldi.
A determinação sexual nas tartarugas marinhas é diretamente dependente da temperatura. As temperaturas mais quentes da areia onde estão os ovos resultam em uma proporção maior de filhotes fêmeas. Por esta razão, se as condições térmicas da areia forem modificadas, a produção de machos e fêmeas pode ser alterada e assim impactar nas proporções entre os sexos que existem na natureza. No Brasil, as áreas prioritárias de desova de tartaruga-cabeçuda estão localizadas no norte da Bahia, Espírito Santo, norte do Rio de Janeiro e Sergipe. Uma grande produção de fêmeas (94%) foi observada na Bahia e em Sergipe. A proporção entre os sexos foi mais equilibrada (53% de fêmeas) no Espírito Santo e Rio de Janeiro. Por esta razão, as praias destes dois últimos estados são muito importantes, pois apesar de terem um registro menor de número de desovas, possuem um maior equilíbrio na produção de machos e fêmeas.
Das espécies que desovam no litoral brasileiro, no continente, ao todo foram protegidos 13.043 ninhos de tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), 8.863 ninhos de tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), 3.025 ninhos de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e 77 ninhos de tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). As desovas de tartaruga-verde (Chelonia mydas) acontecem majoritariamente nas ilhas oceânicas, que ainda estão em meio à temporada de reprodução, porém, na costa brasileira, em áreas de desova secundárias no litoral norte da Bahia e esporádicas nos estados do Espírito Santo, Sergipe e Rio Grande do Norte, foram protegidos 100 ninhos desta espécie.
Pesquisa e conservação – Além do monitoramento e proteção dos ninhos, foram desenvolvidos vários estudos, dentre eles a continuidade do programa de marcação, captura e recaptura de fêmeas para obtenção de parâmetros populacionais, o monitoramento do perfil térmico das principais praias de desova, o efeito da fotopoluição logo após o nascimento dos filhotes de tartaruga-cabeçuda no Rio de Janeiro, o monitoramento via satélite de fêmeas de tartaruga-oliva a partir das praias de desova em Sergipe e de tartaruga-de-pente no Rio Grande do Norte.
Hoje, 95% dos ninhos são monitorados na praia, estratégia considerada ideal para a conservação das tartarugas marinhas. Somente os ninhos sob risco de fatores naturais, como erosão em função da ação da maré ou localizados em áreas urbanizadas, são transferidos para os cercados de incubação expostos às condições climáticas naturais ou para trechos seguros de praia. Os que são transferidos para os cercados têm um papel essencial na educação e na sensibilização da sociedade, pois permitem a milhares de pessoas vivenciar o nascimento das tartaruguinhas e presenciar o caminho até o mar em solturas programadas nas praias. São ações interativas que acabam conquistando novos aliados na defesa das tartarugas marinhas.
Apesar de resultados positivos e de números crescentes indicando o início da recuperação de algumas espécies, principalmente da tartaruga-cabeçuda, os registros de pescaria de espinhel e arrasto no sudeste e sul do Brasil preocupam os pesquisadores. A captura incidental pela pesca é a maior ameaça da atualidade às tartarugas marinhas, dentre outras em áreas de desova, como o desenvolvimento costeiro e o uso de iluminação inadequados. As tartarugas marinhas que hoje se reproduzem no Brasil precisam prosseguir em um mundo cheio de perigos, e por isso esses animais ainda ameaçados de extinção necessitam do apoio de toda a sociedade para sobreviver.
Projeto Tamar - Criado há 35 anos, o Projeto Tamar é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo, seu trabalho socioambiental, desenvolvido com as comunidades costeiras, serve de modelo para outros países. O Projeto Tamar tem o patrocínio oficial da Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, o apoio do Bradesco Capitalização, e nos nove estados brasileiros onde atua recebe diversos apoios locais.
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