19/07/2016 - Uma tartaruga-verde (Chelonia mydas) marcada na base de Ubatuba foi encontrada em junho na Praia Sul do Parque Nacional Laguna de Rocha, no Uruguai. ↓
Uma tartaruga-verde (Chelonia mydas) marcada na base de Ubatuba foi encontrada em junho na Praia Sul do Parque Nacional Laguna de Rocha, no Uruguai. A tartaruga foi marcada inicialmente em janeiro de 2016, após ser capturada numa rede de cerco flutuante na Praia do Camburi, em Ubatuba/SP. Percorreu cerca de 1.500 quilômetros em pouco mais de quatro meses e, infelizmente, foi encontrada morta na praia. A informação da recaptura foi comunicada pelo biólogo Andrés Estrades, do Projeto Karumbé, que atua em pesquisa e conservação de tartarugas no Uruguai.
Este deslocamento entre Brasil e Uruguai não foi o primeiro. Em 2003, o Projeto Karumbé registrou a captura de uma tartaruga-verde marcada pelo Tamar em Ubatuba em 2002 (6 meses depois), e em 2007, outra ocorrência, desta vez com quase 6 anos de intervalo (marcada em 2001). Por outro lado, tartarugas marcadas pelo Projeto Karumbé também já foram encontradas em Ubatuba.
Indivíduos de tartaruga-verde passam períodos curtos de vida em Ubatuba e em seguida migram para outras áreas de alimentação no norte e nordeste do país. Algumas retornam com incrível precisão aos mesmos locais onde foram encontradas inicialmente. Estudos com essa espécie realizados na América do Norte evidenciaram deslocamentos de tartarugas relacionados às estações do ano: durante meses frios migravam para regiões mais quentes e com a chegada do verão retornavam às áreas anteriores. Ainda não é comprovado que o mesmo comportamento seja praticado pelas tartarugas dessa espécie na costa brasileira.
A maioria dos animais marcados pelo Tamar na região Sul e Sudeste tendem a migrar para o Nordeste na medida que vão crescendo. Essa região tem a presença de animais juvenis, subadultos e adultos, que diferiram significativamente em tamanhos dos indivíduos do Espírito Santo e São Paulo, indicando a importância da área para o desenvolvimento de tartarugas em fases anteriores à maturidade sexual e que começam a introduzir novos indivíduos na população. A coordenadora de pesquisa e conservação do Tamar, oceanógrafa Neca Marcovaldi, conta que em Almofala/CE, por exemplo, o Tamar registra encalhes de tartarugas das cinco espécies que ocorrem no Brasil, marcadas no Suriname, no México, dentre outros registros, também de tartarugas marcadas no Ceará e recapturadas em outros países, como Trinidad Tobago e Nicarágua. Sabe-se também que nos anos 60 e 70 do século passado dezenas de animais provenientes da Ilha de Ascención foram capturados em currais de pesca de Almofala.
Monitoramento por satélite amplia o conhecimento
Para complementar o Programa de Marcação e ampliar o conhecimento sobre o comportamento migratório das tartarugas marinhas, o Tamar realiza estudos através de telemetria, com a participação de diversos parceiros. O objetivo é pesquisar deslocamentos reprodutivos e pós-reprodutivos das espécies, fazendo inclusive análises de DNA e avaliação da influência da pesca oceânica nas áreas comprovadas de maior uso pelos animais. Além de identificar as regiões percorridas e os locais onde as tartarugas permaneceram por mais tempo - informações que vão facilitar o trabalho de conservação nas várias fases do ciclo de vida dessas espécies -, o Programa de Marcação e os estudos de telemetria indicam que as tartarugas marinhas que ocorrem na costa brasileira têm um período de vida compartilhado com outros países dos continentes americano e africano. “As informações recolhidas são muito importantes para o planejamento e execução das ações de conservação das tartarugas marinhas. São úteis, por exemplo, para subsidiar medidas de proteção, ordenamento da pesca, licenciamento ambiental e criação de áreas marinhas protegidas”, explica a coordenadora.
Por fatores naturais, apenas uma ou duas em cada mil tartaruguinhas sobrevivem. Mesmo ao nascerem em segurança, é no mar onde passam a maior parte da sua existência e acontece a maioria dos problemas que serão obrigadas a enfrentar. Entre 20 e 30 anos atingem a idade adulta e começam a se reproduzir, reiniciando o ciclo da vida. As tartarugas marinhas que hoje se reproduzem no Brasil precisam prosseguir em um mundo cheio de perigos, e por isso esses animais ainda ameaçados de extinção necessitam do apoio de toda a sociedade. Redes de pesca, anzóis, degradação de áreas de desova, fotopoluição e a poluição dos oceanos, além das mudanças climáticas, são os principais inimigos das tartarugas e podem interromper a chance de recuperação das cinco espécies que ocorrem no nosso país.
Projeto Tamar - Criado há 35 anos, o Projeto Tamar é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo, seu trabalho socioambiental, desenvolvido com as comunidades costeiras, serve de modelo para outros países. O Projeto Tamar tem o patrocínio oficial da Petrobras, através do programa Petrobras Socioambiental, e nos nove estados brasileiros onde atua recebe diversos apoios locais.
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