26/09/2016 - Pesquisa de telemetria em tartarugas marinhas. Leia mais. ↓
Desde 2014, está em andamento um estudo de telemetria com tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata). A pesquisa começa a mostrar que as tartarugas dessa espécie podem ser indicadores na proposição de novas Unidades de Conservação (UC), pois dependem de ambientes recifais saudáveis para alimentação e desenvolvimento, e precisam de atenção adicional por estarem entre as tartarugas marinhas mais ameaçadas de extinção no mundo. Mais seis transmissores serão instalados em fêmeas que chegarão ao Rio Grande do Norte nesta temporada de reprodução que se inicia ainda em 2016.
Até agora, foram dois momentos de captura e marcação em 12 fêmeas rastreadas em 2014/2015, e mais 12 fêmeas rastreadas em 2015/2016. Destas, 20 alcançaram as áreas de alimentação. Quatro tartarugas pararam de transmitir antes de chegarem às áreas de alimentação, com deslocamento entre 15 e 58 km, permanecendo ao largo das praias de desova e fora de Unidades de Conservação.
Nove tartarugas migraram para o norte (com deslocamentos entre 101 e 1515 km) e passaram pela APA Estadual Recifes de Corais/RN, e duas se estabeleceram nos limites desta UC para a fase de alimentação. Outras cinco tartarugas transitaram durante a migração pelas: Resex Prainha do Canto Verde/CE; Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio/CE e APA das Reentrâncias Maranhenses/MA. Uma fêmea definiu sua área de alimentação dentro dos limites do Parque Estadual Marinho do Parcel Manuel Luis/MA.
Sete tartarugas migraram para o sul (com deslocamentos entre 81 e 559 km), cinco tartarugas cruzaram os limites das APAs da Barra do Rio Mamanguape/PB, de Santa Cruz/PE, de Guadalupe/PE e Costa dos Corais/PE/AL, na fase migratória. Duas fêmeas definiram como área de alimentação a APA Costa dos Corais/PE/AL. Todas as tartarugas permaneceram na plataforma continental.
Fonte: BELLINI et al (2016) O SNUC é um instrumento eficaz para proteção das tartarugas marinhas no Brasil? Um ensaio sobre as tartarugas-de-pente, Eretmochelys imbricata, que nidificam no litoral do Rio Grande do Norte.
Como explica o biólogo do Tamar, Armando Barsante, restam seis transmissores que serão instalados nesta temporada que se inicia em 2016. “A ideia é recapturar metade das tartarugas que foram rastreadas em 2014/2015 e colocar um novo transmissor nelas pra verificarmos se elas vão voltar para o mesmo lugar”. Um Sistema de Informação Geográfica (QGis) foi usado para mapear os movimentos das tartarugas e para posicionar as UCs, utilizando shape files fornecidos pelo site do MMA (http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htm), permitindo assim avaliar a presença ou ausência de sobreposições.
Inicia-se agora a empolgante fase de análise dos dados de sete transmissores das fêmeas que foram recapturadas durante o intervalo entre as desovas, incluindo posição de GPS, tempo de mergulho e profundidade. Desta forma, os pesquisadores conseguirão informações preciosas sobre: deslocamento pós-desova (após desovar até chegar na sua área de desova - 1 ou 2 dias), período de quiescência (mais ou menos 10 dias que a fêmea fica economizando energia, sem deslocamento); deslocamento até a área em frente à praia de desova; permanência nessa área, até que, enfim, a tartaruga sobe a praia para fazer seu ninho e, depois, começa tudo de novo. Na última desova da temporada, elas ainda param pra dar mais uma descansada de um dia antes de partirem. “Temos esse detalhamento para alguns indivíduos ao longo de cinco desovas em uma mesma temporada de reprodução, voltando sempre para o mesmo local dentro do mar". Os resultados estão fascinantes”, conta o biólogo.
“Agradecemos à CGPEG/IBAMA e à PGS (Petroleum Geo Services, Brasil). O projeto de “Telemetria satelital das tartarugas-de-pente do Rio Grande do Norte” é um condicionante do CGPEG/IBAMA para atividades de exploração e produção de petróleo e gás na Bacia Potiguar – RN/CE. Pesquisa Licença SISBIO n° 14122”. (BELLINI et al, 2016)
O Projeto Tamar começou nos anos 80 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Hoje, é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo, seu trabalho socioambiental, desenvolvido com as comunidades costeiras, serve de modelo para outros países. O Projeto Tamar tem o patrocínio oficial da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental, o apoio do Bradesco Capitalização, e nos nove estados brasileiros onde atua recebe diversos apoios locais.
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