30/11/2017 - Artigo de Karen Bjorndal e 72 co-autores de 46 afiliações. Leia mais. ↓
Muito se tem falado nas mudanças que nosso planeta vem sofrendo desde que a sociedade humana começou a se desenvolver. Apesar dos mecanismos causadores ainda não serem muito bem conhecidos e incluírem fontes tanto de origem humana como fenômenos naturais, o fato é que o meio ambiente tem sofrido dramáticas mudanças que persistem no tempo e afetam toda a biota do planeta. Detectar essas mudanças ainda é um grande desafio, uma vez que a maioria dos estudos se dedica a analisar apenas fragmentos que fazem parte de um sistema maior. Poucos estudos têm se dedicado a analisar mudanças a longo prazo em uma escala regional.
Em animais de “sangue frio” (ectotérmicos) como as tartarugas marinhas, o crescimento do indivíduo é resultado das condições ambientais, tais como temperatura e disponibilidade de alimento. Além disso, são animais extremamente migratórios que podem refletir as mudanças ambientais em uma escala regional. As taxas de crescimento, ou seja, a velocidade com que as tartarugas marinhas crescem por ano podem ser determinadas através dos programas de captura, marcação e recaptura, trazendo informações valiosas para serem analisadas ao longo do tempo. Uma mudança nas taxas de crescimento ao longo do tempo poderia refletir mudanças que estariam ocorrendo no ambiente.
A pesquisadora Karen Bjorndal da Universidade da Flórida capitaneia um estudo publicado na revista Global Change Biology, em março de 2017. A pesquisa explora o maior conjunto de dados sobre crescimento de tartarugas marinhas já analisado, com 9.690 registros de crescimento de tartaruga-verde (Chelonia mydas) em 30 localidades, desde Bermuda até o Uruguai, de 1973 a 2015. O trabalho conta com 72 co-autores de 46 diferentes afiliações; o Projeto TAMAR contribui com 13,7% dos dados de crescimento, provenientes principalmente da base de Fernando de Noronha (com 1.206 registros de crescimento entre 1989 e 2015), também do Atol das Rocas (89 registros) e Praia do Forte (39 registros).
A pesquisa considera que o declínio na velocidade de crescimento da tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) a partir de 1997, em estudo anterior semelhante da pesquisadora, poderia ser uma resposta à mudança do ambiente. A tartaruga-de-pente e a cabeçuda são primariamente carnívoras, embora se alimentem de diferentes tipos de presas. As tartarugas de pente comem principalmente esponjas, zoantideos e anêmonas associadas a ambientes de recife de coral. Cabeçudas se alimentam mais comumente de invertebrados de concha dura.
O estudo do crescimento da tartaruga-verde, por ser herbívora, poderia contribuir para saber se o fenômeno da diminuição das taxas de crescimento estaria ocorrendo também com uma espécie que ocupa outro nível da cadeia alimentar. Os resultados indicaram que as taxas de crescimento variaram significativamente dependendo do tipo de dieta, sendo o crescimento mais rápido das tartarugas que se alimentam de grama marinha do que as com dieta mista (grama marinha/macroalgas), macroalga e onívoras.
Entre 1974 e 1999, as taxas de crescimento da tartaruga-verde aumentaram, começando a cair a partir de 1999 até 2015. Isto se deu no momento em que a água do mar atingiu uma temperatura média maior que 26°C. Além da temperatura do mar, os eventos de El Niño também tiveram correlação com as taxas de crescimento. Identificou-se um limite entre 26°C e 25,9°C em que temperaturas mais altas tendem a diminuir a velocidade de crescimento das tartarugas e temperaturas mais baixas tendem a aumentar a velocidade de crescimento.
Em 1997/1998, uma grande mudança ocorreu no Atlântico, como resultado de uma sinergia entre o mais forte El Niño já registrado e a maior elevação das taxas de aquecimento das últimas duas a 3 décadas. Outras mudanças no Atlântico também ocorreram, incluindo substancial perda de gelo antártico, extremo branqueamento de corais, além da mudança em populações de fitoplancton, zooplancton, moluscos, equinodermas, peixes e aves marinhas.
Seria muita coincidência que fatores inerentes às tartarugas de diferentes níveis da cadeia alimentar diminuíssem suas taxas de crescimento ao mesmo tempo, fato que contribui para a conclusão de que uma situação externa a elas estaria influenciando todo o ecossistema, ou seja, estaria havendo uma mudança ecológica. Saber que a produtividade das tartarugas marinhas é menor em temperaturas mais altas não é uma boa notícia em uma era de aquecimento global.
Título original e link:
ECOLOGICAL REGIME SHIFT DRIVES DECLINING GROWTH RATES OF SEA TURTLES THROUGHOUT THE WEST ATLANTIC
Equipe de Pesquisa discute prioridades de ações da Fundação Projeto Tamar
Projeto TAMAR: Manejo Adaptativo na Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil
No mês das crianças, que tal se aproximar das tartarugas marinhas?
Celebração da Oceanografia: Homenagem e Inovação em Prol da Conservação Marinha