11/02/2022 - Como estratégias de reprodução podem diminuir os impactos das mudanças climáticas nas tartarugas marinhas? ↓
Com uma colaboração entre as universidades americanas Florida State University, University of Massachusets, Oregon State University e a Fundação Projeto Tamar, e financiamento da Fundação de Ciência Nacional dos Estados Unidos (National Science Foundation - NSF). A pesquisa buscar entender como estratégias de reprodução podem amenizar os impactos das mudanças climáticas nas tartarugas marinhas.
As mudanças climáticas são uma ameaça para o equilíbrio de qualquer ecossistema e para todas as formas de vida. No caso das tartarugas marinhas, o sexo dos filhotes é determinado pela temperatura da areia onde os ovos ficam incubados, produzindo mais fêmeas quando o calor aumenta. Por isso, levando em consideração os atuais cenários climáticos de aquecimento, existe uma preocupação dos possíveis impactos que essa razão sexual desproporcional pode ter nas populações.
De modo geral, a proporção de fêmeas já é maior, mas aparentemente, os machos copulam a cada ano, diferente delas que não acasalam em todas as temporadas reprodutivas. Porém, ainda é difícil saber se esta característica biológica pode operar como um fator de equilíbrio na proporção sexual. Além disso, um maior número de fêmeas aumenta a quantidade de desovas e promove o crescimento da população. No entanto, pouco se sabe sobre o comportamento dos machos e quantos são necessários para uma população de tartarugas marinhas ser viável.
Veja que interessante a diversidade de métodos utilizados no estudo: coleta de dados na água em áreas de observação determinadas, captura para marcação e coleta de material genético, rastreamento via satélite e ainda tem mais, nas praias os pesquisadores também monitoram a temperatura dos ninhos e a genética das fêmeas e filhotes.
As atividades foram iniciadas na temporada 2019/2020 e até o fim de janeiro de 2022, 167 mergulhos foram realizados, com 304 avistamentos de machos de tartaruga-verde, 280 fêmeas e 33 cópulas. Da Ponta das Carcas até a Praia do Leão, os pesquisadores, através de mergulho livre, semanalmente fazem o mesmo trajeto, chamado de transecto, para registrar a presença de tartarugas marinhas adultas prontas para a reprodução. As análises preliminares indicam que os machos chegam primeiro que as fêmeas e em alguns casos até foram observados comportamentos de copula entre eles. O período de reprodução acontece principalmente entre dezembro e fevereiro. A proporção do sexo das tartarugas avistadas vai mudando, com mais machos aparecendo no início da temporada e mais fêmeas à medida que a temporada avança. Outro fato interessante, mas que ainda precisa ser melhor analisado, é que depois de desovar, a mesma tartaruga marinha não foi mais vista copulando.
Nas duas primeiras temporadas de estudo, também foram rastreados 9 machos; 2 permaneceram na ilha e 7 migraram para a costa nordeste do Brasil, entre o Ceará e o Rio Grande do Norte (Fig. 2). Nessa temporada, 11 machos já foram marcados com rastreadores, totalizando 20 machos rastreados nas três temporadas.
Agora, no caso das tartaruguinhas que vão começar a nascer a partir de fevereiro, os pesquisadores vão coletar material para descobrir geneticamente se há ninhos com filhotes de vários pais diferentes. Será observado se a proporção da contribuição genética desses machos se mantém ao longo da temporada reprodutiva nas outras desovas da mesma fêmea (Ft. 1). Por fim, a temperatura de incubação dos ninhos também vai ser analisada, através de um data-logger que funciona como um termômetro e é colocado junto aos ovos no momento da desova.
Impressionante todo o trabalho envolvido para realizar uma pesquisa inédita como essa, não é mesmo? Vale mencionar também que o ICMBio atua na fiscalização e acompanhamento do extenso cronograma de atividades dos pesquisadores. E as saídas de barco para os mergulhos livres contam com o suporte da operadora Sea Paradise.
Figura 2. Olha que incrível, aqui você pode acompanhar em tempo real o rastreamento via satélite dos machos de tartaruga-verde:
https://my.wildlifecomputers.com/data/map/?id=5fd6003831af5916904322b6
Quer apoiar as atividades da Fundação Projeto Tamar? Venha visitar nosso museu das tartarugas marinhas em Fernando de Noronha.
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