16/06/2020 - Celebrada no dia 16 de junho, a data foi especialmente escolhida para homenagear o pioneiro da pesquisa e conservação das tartarugas marinhas, Achie Carr. ↓
O Dia Internacional das Tartarugas Marinhas (“World Sea Turtle Day”) é celebrado mundialmente no dia 16 de junho, para ressaltar a importância da preservação destas fantásticas espécies. A data foi escolhida especialmente para homenagear o pioneiro da pesquisa e conservação das tartarugas marinhas, o norte americano Archie Fairly Carr Jr., nascido em 16 de junho de 1909.
O professor Archie Carr era herpetologista (naturalista que estuda répteis e anfíbios) e concluiu seu doutorado na Universidade da Flórida, em 1937, onde lecionou durante toda a vida. Em 1947, como professor de biologia em Honduras, teve a oportunidade de conhecer pela primeira vez as tartarugas marinhas. Desde então, seu nome será eternamente relacionado a pesquisa e conservação destes animais.
Em seu livro The Windward Road: Adventures of a Naturalist on Remote Caribbean Shores (1956), chamou pela primeira vez a atenção internacional para a difícil situação a que estavam expostas as tartarugas marinhas e em 1959 criou o Caribbean Conservation Corporation, hoje Sea Turtle Conservancy, o mais antigo grupo de pesquisa e conservação de tartarugas marinhas do mundo que estuda e protege as tartarugas-verde que desovam em Tortuguero, na Costa Rica, uma das principais áreas de desova desta espécie no Oceano Atlântico.
Para os conservacionistas, Carr foi um dos grandes heróis do século XX iniciando uma campanha de conservação de espécies que serviu de modelo para todo o mundo. Pesquisador criativo, realizou experimentos usando balões meteorológicos e radiotransmissores amarrados ao casco das tartarugas para acompanhar informações como velocidade de deslocamento e rotas percorridas por esses animais.
Desenvolveu um amplo programa de marcação e recaptura de tartarugas marinhas, através da aplicação de marcas metálicas, para estudar: Para onde vão? O que fazem? Quantas são? Este programa marcou milhares de tartarugas em vários locais do Atlântico. Recebia assim em seu laboratório na Universidade da Flórida, centenas de correspondências comunicando o encontro das tartarugas anilhadas, as quais respondia cuidadosamente junto com uma recompensa de 5 dólares. Desta forma, Carr constatou que as fêmeas adultas de tartaruga-verde viajavam por todo o Caribe e retornavam para desovar em Tortuguero. Foi uma das primeiras evidências da fidelidade das tartarugas aos sítios de reprodução (filopatria natal) e sua a grande capacidade de migração, características comprovadas décadas mais tarde através de estudos que usam sequências de DNA como marcadores genéticos. Em um artigo publicado em 1965, na Revista Scientific American, o Dr. Archie Carr relata que após a marcação de 206 fêmeas em Ascenção, nove foram reencontradas no litoral nordeste brasileiro. O método de marcação iniciado por Carr é utilizado até hoje para monitorar tartarugas em todo o mundo.
Em seu livro “So Excellent a Fishe”, publicado em 1967, Carr traz uma narrativa bem-humorada porém com rigor científico, resumindo o conhecimento que conseguiu acumular em mais de duas décadas de pesquisas em campo.
Muitos dos mistérios da época já foram desvendados nos dias atuais, graças a grande evolução das ciências e às novas tecnologias aliadas a pesquisa das tartarugas marinhas. Entretanto, muitas de suas perguntas permanecem sem resposta e continuam provocando as gerações de novos pesquisadores.
Uma de suas perguntas que ainda intriga os pesquisadores nos dias atuais é sobre a orientação das tartarugas. Como conseguem encontrar pequenas ilhas no meio do oceano? Archie Carr se perguntava sobre “o caminho para a ilha meta”, em referência à migração das tartarugas-verde à ilha Ascenção. Outra grande busca de Carr era identificar para onde vão as tartaruguinhas depois que nascem. O “mistério dos anos perdidos” até hoje é pesquisado, mas Carr já propunha que este período desconhecido da vida das tartarugas poderia durar até uma década.
Dr. Carr viveu numa época em que havia pouco conhecimento sobre as tartarugas marinhas, e contribuiu de forma determinante com a geração de conhecimento sobre os mistérios relacionados a esses animais, sendo o responsável por grande parte do que se conhece hoje sobre a biologia e o ciclo de vida destes animais.
Seu bom humor, além de sua obra original e pioneira referenciada em todo o mundo, é uma das características lembradas por aqueles que o conheceram e o consideram um biólogo carismático e moderno. Seu entusiasmo e fascínio pelas tartarugas marinhas era contagiante e foi provavelmente o indivíduo que mais promoveu a pesquisa e a conservação desses animais no mundo.
O legado de Archie Carr vive através dos seus escritos, de seus estudantes e dos estudantes destes, pois Archie tem várias gerações de “filhotes” acadêmicos, e das organizações que ele ajudou a fundar.
"O Projeto Tamar – Fundação Pró Tamar, que já fez 40 anos, também tirou grande parte de sua inspiração na vida e obra deste pesquisador criativo, inovador e visionário", diz a coordenadora de pesquisa e conservação do Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar, oceanógrafa Neca Marcovaldi.
Equipe de Pesquisa discute prioridades de ações da Fundação Projeto Tamar
Projeto TAMAR: Manejo Adaptativo na Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil
No mês das crianças, que tal se aproximar das tartarugas marinhas?
Celebração da Oceanografia: Homenagem e Inovação em Prol da Conservação Marinha