04/11/2021 - O litoral do estado é reconhecido como importante área de alimentação de tartaruga-verde ↓
Tartarugas marinhas verdes ou aruanã (Chelonia mydas) mudam de habitat durante seu desenvolvimento, passando do mar aberto para zonas mais próximas ao litoral. Por fim, quando chegam a idade adulta, alternam entre áreas de desova e alimentação. Infelizmente, por utilizarem habitats costeiros a maior parte do tempo, esses animais estão sob uma série de ameaças causadas pelo homem, como a pesca acidental que é a maior causa de mortes de tartarugas em todo o mundo.
O litoral do estado do Ceará, no nordeste do Brasil, foi reconhecido há décadas como importante área de alimentação de tartarugas-verde que vem da Ilha da Ascensão, Suriname e das Guianas. As capturas de tartarugas marinhas em currais de pesca (pescaria fixa) foram documentadas em Boletins de Pesca pelo Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR/UFC desde os anos 1960, na época esses animais eram consideradas um recurso pesqueiro. Felizmente, essa arte de pesca se tornou uma oportunidade de coletar dados e trabalhar em conjunto com os pescadores para a conservação, já que as tartarugas ficam aprisionadas na armadilha, mas sobrevivem se forem resgatadas.
Em 1992, a Fundação Projeto TAMAR, com o objetivo de reduzir capturas para consumo, estabeleceu uma base de pesquisa e conservação de tartarugas marinhas em Almofala, no município de Itarema e depois uma sub base na comunidade de Volta do Rio, no Acaraú. Através de programas educacionais com as comunidades, monitoramento de capturas acidentais e encalhes foi possível aumentar a conscientização e evitar a morte de tartarugas para consumo ou comercialização nos mercados locais. Além disso, foram coletados por décadas dados de capturas de tartarugas-verdes em currais de pesca que determinaram as classes de tamanho, variações temporais nas taxas de captura, tempo de residência e taxas de crescimento.
A captura relativamente constante e durante todo o ano de tartarugas-verde demonstra a importância da região como área de desenvolvimento para juvenis nascidos em diferentes locais e com altas taxas de crescimento em comparação a outras áreas de alimentação. No estudo realizado, 2.335 tartarugas-verde foram capturadas em 27 currais de pesca monitorados entre os anos de 2008 e 2018. Entre elas, 2.299 eram marcadas, 1.774 foram capturadas apenas uma vez e 195 foram recapturadas até 9 vezes.
Os tamanhos dos animais capturados variaram entre 24 e 123 cm, a maioria eram juvenis entre 30 a 49 cm, já os adultos registrados (maior que 97 cm) representaram 3% das tartarugas encontradas em currais de pesca. As juvenis prevaleceram em águas mais rasas e adultas em águas mais profundas. O período de maior ocorrência foi de março a outubro, com pico em maio para todos os anos avaliados.
A maior parte dos animais foram recapturados em currais de pesca diferentes, porém 18% apareceram na mesma armadilha onde haviam sido capturados pela última vez. O menor intervalo de recaptura ocorreu um dia após a captura e o maior cerca de 3 anos depois. Esses registros também mostraram que as tartarugas com comprimentos menores na primeira recaptura tiveram a maior taxa de crescimento, enquanto as maiores cresceram mais lentamente.
Entre 1960 e 1980, as taxas de captura foram decaindo após um período inicial de alta, demonstrando uma queda na população de tartarugas marinhas, provavelmente porque na época esses animais ainda eram vistos como recurso pesqueiro. Já o aumento nas taxas de captura das últimas décadas indica uma recuperação das populações impulsionado em parte pelas as ações de conservação e redução da matança intencional no Brasil desde que a Fundação Projeto Tamar iniciou seus trabalhos.
Analisando todo o histórico é possível notar que além da participação na recuperação das populações de tartarugas, as atividades de conservação também refletiram positivamente nas ações dos pescadores. Essa relação de confiança com as comunidades locais, transformando pescadores em agentes conservacionistas, é fundamental para o sucesso na conservação desses animais espetaculares.
“Importante ressaltar que anos atrás, quando ali chegamos, o comércio de carne de tartarugas-verde era intenso e movimentava a economia local. Hoje, olhando para o futuro, tão importante quanto a pesquisa realizada, é saber que as tartarugas marinhas ganharam uma nova chance de sobrevivência na região” diz Eduardo Lima, pesquisador da Fundação Projeto TAMAR.
Quer saber mais sobre esse estudo? Clique aqui.
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